domingo, 27 de julho de 2014


João Ubaldo morreu


João Ubaldo morreu. Reconheço que nunca fui um bom leitor dele, sempre preferi Jorge Amado, não por questões literárias de fundo, mas pela picardia de Jorge, era mais fácil para um adolescente em uma época em que Playboys eram raras e caras. Não sei, João tinha uma coisa mais política, Jorge era só putaria.

Então não conheci João pela literatura, conheci ele pelo bom humor. Foi um homem que falava sorrindo. Bom contador de histórias, amigo de Jorge Amado, amigo de Glauber Rocha. Foi um homem que se entregou ao seu Dom, escritor nato. Cronista conciso. Um homem que apostou naquilo que achava que tinha talento. E seu talento era escrever.

E sua escrita conheci por imposição, em um texto do professor de literatura, eu acho, era uma carta escrita para FHC, meu Deus que carta. Assertividade política, associada com precisão literária e o melhor em diálogo com o grande público.


Depois só seu sorriso... sua alegria... sua forma de ver e ler o mundo sempre foram mágicas para mim.

E sargento getúlio, que soco no estomago...como um homem tão risonho poderia ter escrito aquilo?

Que monstros escondia por trás daqueles sorrisos? Talvez só genialidade.

quarta-feira, 9 de julho de 2014

Amor


Uma menina rosa. 
Uma rosa menina. 
Uma menina risonha
Risonha e feliz 

Corre pela casa
Espalha roupas pelos cantos
Faz perguntas
Quer saber das coisas.

Me deixa estático
Parado
Extasiado 
9 anos
1 Sentimento

Amor


segunda-feira, 16 de junho de 2014

Respira... Respira...

   ... e continue respirando.

sexta-feira, 6 de junho de 2014

Tempos Pós-Modernos



"Os contatos online têm uma vantagem sobre os offline: são mais fáceis e menos arriscados — o que muita gente acha atraente. Eles tornam mais fácil se conectar e se desconectar. Casos as coisas fiquem “quentes” demais para o conforto, você pode simplesmente desligar, sem necessidade de explicações complexas, sem inventar desculpas, sem censuras ou culpa. Atrás do seu laptop ou iPhone, com fones no ouvido, você pode se cortar fora dos desconfortos do mundo offline. Mas não há almoços grátis, como diz um provérbio inglês: se você ganha algo, perde alguma coisa. Entre as coisas perdidas estão as habilidades necessárias para estabelecer relações de confiança, as para o que der vier, na saúde ou na tristeza, com outras pessoas. Relações cujos encantos você nunca conhecerá a menos que pratique" - Zygmunt Bauman


Fonte: http://www.istoe.com.br/assuntos/entrevista/detalhe/102755_VIVEMOS+TEMPOS+LIQUIDOS+NADA+E+PARA+DURAR

quinta-feira, 29 de maio de 2014

Tempos Modernos


Ser feliz é sempre uma abstração, impossível dizer o que seria ser feliz,  mas tem a ver também com dizer alguns nãos. Como faz bem dizer nãos. Dizer não a quem não acredita em suas idéias e propostas. A quem não acredita em você. Temos a ilusão de que vamos convencer as pessoas da nobreza de nossas intenções, deliberadamente algumas pessoas não querem e não podem ser convencidas. São outros entendimentos e outras perspectivas.

Dizer não a tudo que for meio, a tudo que for metade, a tudo que não for inteiro. Somos pessoas inteiras, sempre,  em nossos erros e acertos. Acertamos, erramos e somos imperfeitos, mas nos entregamos para a vida de maneira inteira. E entre tropeços e  acertos vamos vivendo, inteiros.

Dizer não a quem às vezes invade o nosso espaço, os nossos quereres, às vezes a gente nem sabe se o querer é nosso mesmo. Quase sempre a invasão nem é deliberada, somos nós que não sabemos construir as linhas divisórias entre o eu, o nós e os outros. Precisamos construir estas linhas.

Precisamos encontrar momentos nossos, coisas nossas que podem ser de um curso de culinária ou um doutorado, por que não? O importante é gostar de fazer, é ter um momento introspectivo no qual estamos sós conosco mesmo.

Pode ser tomar sozinho uma taça de vinho, meio sem entender se o vinho é bom não, mas não vai ter ninguém ali para dizer teorias sobre a safra do vinho, a gente só quer beber ele. Cabernet Sauvignon, Merlot, Malbec? R$ 20,00 ou R$ 200,00? Vinho bom é aquele que passeia suavemente por nossa boca, que enche de cor, cheiro e frescor a nossa vida.

Como uma bela garrafa de cerveja uruguaia que tomamos inteira sem ninguém para ver, em casa, no nosso momento e ir dormir tranqüilo, meio bêbado, meio cansado, meio sonolento... imperfeitos, mas inteiramente feliz. 

E como seres imperfeitos, sempre precisamos mudar algumas coisonas e outras coisinhas. Mudar faz parte da vida, afinal estamos vivos, temos muita coisa pela frente, muitas coisas para ver, viver... e vamos sempre viver tudo o que há para viver.

E sempre ver a vida melhor no futuro, mais farta, clara, cheia de gente fina, elegante e sincera...

quarta-feira, 14 de maio de 2014

Três pessoas


Três pessoas sentadas em minha frente. 
O primeiro exalava perfume, o segundo exalava suor, o terceiro exalava remédio.
O primeiro se sentia desprestigiado, o segundo humilhado, o terceiro perdido. 
Três pessoas, três momentos, três histórias.

... e eu perdido no Vale do Anhangabaú. Dando voltas em círculos, cruzando a Augusta, caindo na Consolação.

terça-feira, 13 de maio de 2014

sábado, 10 de maio de 2014

Automat (1927) - Edward Hopper



Olhos para baixo, pensamentos para dentro, profundidades e esquinas, sinuosidades e retas. O que estaria pensando? 

Uma noite fria e escura. O que fazer agora, para onde ir?


Os músicos e o vendedor de sândalos



No meio de uma praça, jovens tocam folk music com um chapéu no chão a espera de alguns trocados. Um garoto, vendedor de sândalos, inunda o ambiente com um cheio delicioso, para ao lado da banda e extasiado com o violoncelo assiste ao concerto inteiro.

Por um breve momento, não é hora de trabalhar, tudo agora é musica com cheiro de sândalo.

Praça Benedito Calixto, São Paulo, Novembro de 2012

Adieu (1892) - Alfred Guillou





Tumulto, um barco virado, uma pessoa morta, o resgate do corpo, um beijo final. 

sexta-feira, 9 de maio de 2014

Reencontros com a Literatura e com a vida

Uma vez em um curso que fiz com o professor Benjamim Abdala ouvi ele dizer que a literatura é aquilo que fica, aquilo que transforma e é justamente este o sentimento que tenho ao ler Luandino.

Reencontrar a literatura, de alguma forma, no doutorado, foi de certa maneira reencontrar a mim mesmo, alguém que ficou na biblioteca de meu colégio do ensino médio e que eu só reencontrei no doutorado.

Só para deixar-lhes com um vontadezinha de ler Luandino, e mesmo, mutilando o seu texto, um breve trecho do conto "Faustino" de "A cidade e a infância". É o momento que Faustino, decide largar seu emprego e mesmo na incerteza decide seguir seus sonhos e ir estudar.

Faustino é um exemplo para nós que decidimos fazer um pós-graduação, mas sobretudo é um exemplo para o povo negro e pobre deste país miserável que não dá valor a educação.

“Faustino gostava de flores. E de estudar. E ficava triste quando via a senhora do terceiro andar gritar para a filha, menina sardenta de seios púberes:
- Belita, vem estudar!
- Não quero, mãe!
Ficava triste porque ele queria estudar. Cortou mais uma flor. Despiu a farda e pegou nos seus livros. O encarregado correu atrás dele.
- Ah negro, se t’apanho!
Os miúdos gritaram para Faustino já distante.
-Bóbi! Bóbi! Bóbi!
Bóbi era o cão de luxo da senhora do terceiro andar. E Faustino nem era ao menos um cão de luxo. Era um negro porteiro que tinha mania de estudar.
Pelo caminho abriu as Ciências, pensou em Maria, os dois sem emprego, e foi desfolhando a última flor colhida:
- Cálice, corola, androceu...”
(Luandino Vieira, Luanda, 1957).

Literatura, caminhos e mudanças

A literatura me abriu caminhos, abriu perspectivas, me pôs em contato com mundos diferentes, com pessoas diferentes, universos diferentes... e fiz da minha vida um livro cotidiano, experenciando, experimentando: cidades, contextos e realidades... e sobretudo acreditando no impossível, na utopia.

Em São Paulo a dureza desta cidade e agruras que passei por aqui, me fez repensar muita coisa, estava na hora de sair deste mundo dos livros, das utopias... mas quem carrega dentro de si a transformação não pode esmorecer em nenhum momento.


O que vi nesta cidade durante as manifestações do meio de 2013, a articulação de meus novos amigos paulistas aqui pelo Facebook, nas ruas, a imprensa atônita, os políticos atônicos...e por fim a redução da tarifa, reafirmou a crença de que é possível sim pensar em novos caminhos e novas perspectivas para este país.

É possível sim acreditar no impossível, na utopia como algo que movimenta, que nos mantém vivos, que nos faz caminhar...

Temos muito ainda o que fazer, temos muito ainda o que viver, o que dizer...

ESTAMOS VIVOS!!!

Um brinde a vida!

Conversa de Elevador

Entro no elevador de onde moro um vizinho me pergunta:
 - Você conhece o carrapato?
 - Disse não.
 - Eu também não, só o carro a gasolina ou a alcool, o carro a pato não.

 Depois me perguntam porque eu não converso com ninguém no elevador?

quarta-feira, 7 de maio de 2014

Comentários a Respeito de Belchior


Não sei o que me atrai em Belchior. Talvez ela seja extraterreno, um ser que ninguém conhece, um grilo falante perdido nos anos 80. 

Perdido no Uruguai.

Perdido entre cds piratas comprados na Feira do Paraguai. 

Companheiro das noites de sonos perdidos.

terça-feira, 6 de maio de 2014

A Casa do Lago


Viajar permite que possamos descobrir algo novo, as vezes o novo não está nos lugares diferentes, mas sim na sutileza das pequenas descobertas. Foi assim que “A casa do lago” entrou em minha vida, zapeando pela TV do Avião.   

Era um filme romântico, e talvez ali no anonimato pudesse me deixar permitir ver algo que normalmente não vejo. E aí veio a minha primeira indagação porque eu não posso ver este tipo de filme? Construímos personagens para lidar com o mundo e eles em algum momento tomam conta da gente que não sabemos mais se somos o personagem ou nós mesmos.

O filme se passa em dois anos, 2004 e 2006, onde um personagem de 2004 se corresponde com um que está em 2006. Daí a primeira questão interessante, o quão racional pode ser a vida e as temporalidades? Os tempos estão sempre em contato, interagindo, determinando... o que fazemos hoje tem muito do que deixamos de fazer ontem, ou o que fazemos hoje é exatamente igual ao que fazemos ontem. Então o hoje e ontem se confundem de tal forma, que o hoje é ontem e vice -versa.

O fio condutor do filme é o livro Persuasão da escritora inglesa Jane Austen, que retrata os encontros, desencontros e reencontros da vida, os arrependimentos e as avaliações que fazemos em todo este processo, mas o que me chama atenção é que isto é feito de forma sensível e sem culpas, pessoas adultas, vivendo histórias reais, com sensibilidade e dando-se valor as coisas que realmente importam.

O final do filme é inverossímil, mas que diz que a vida tem que ser racional?